Resenha: Revel in Time – Star One

ilustração hiperdetalhada de uma espécie de caverna ou floresta cheia de estruturas estranhas. O logo do grupo aparece no topo, centralizado, e o nome do disco vem no rodapé, também centralizado

Reprodução da capa do álbum (© Inside Out Music; arte por Jef Bertels)

A cada dez anos, mais ou menos, o gênio holandês Arjen Anthony Lucassen presenteia o mundo com um disco do seu projeto mais pesado, o Star One. O último saiu tanto tempo atrás que foi a segundíssima resenha que eu escrevi para este blog, e você pode conferi-la aqui.

Sem os passeios acústicos, folclóricos e psicodélicos de seu irmão mais velho Ayreon, este projeto sempre vem cheio de riffs matadores e letras sobre filmes/séries de ficção. E Revel in Time, o terceiro filho do projeto, não faz diferente. Ao menos nestes quesitos.

Porque só de olhar a lista de convidados, você já percebe que algo mudou – e não necessariamente para melhor. Claro, um lançamento que vem com Jeff Scott Soto, Tony Martin, Marcela Bovio, Ross Jennings e muitos outros só pode ser algo espetacular, né? E realmente é. Como praticamente tudo que o Arjen faz.

Mas o Star One sempre focou em quatro vocalistas: Damian Wilson, Dan Swanö, Floor Jansen e Russell Allen (e antes que você pergunte, sim, os quatro participam desta obra. Ufa!). Essa pequena turma dava conta do recado, dividindo as mesmas músicas e promovendo assim diálogos bem interessantes, como que incorporando os personagens dos filmes/séries que inspiraram as letras.

Agora, com esta fórmula de um vocalista por faixa, as coisas ficam mais reduzidas a uns monólogos, salvo uns vocais de apoio aqui e acolá. Ao mesmo tempo que é legal ver alguns nomes novos trabalhando com Arjen – eu vibrei quando soube que Ross Jennings finalmente havia sido chamado -, o grupo sempre ganhou pela abordagem enxuta.

Do ponto de vista estritamente musical, como eu já disse, temos só elogios. Para quem quer metal tocado até o conta-giros chegar no vermelho, a abertura já atende aos desejos, trazendo versões com Brittney Slayes (Unleash the Archers) ou Marcela Bovio (Elfonia, Stream of Passion, ex-VUUR), ambas com um solo abrasador de Michael Romeo (Symphony X). “28 Days (Til the End of Time)” atende também os fãs das antigas, trazendo a indispensável voz de Russell Allen (Symphony X, Adrenaline Mob; a versão alternativa traz John Jaycee Cuijpers (Praying Mantis)) e um solo de Timo Sommers. “Back to the Future” é um “momento Sons of Apollo”, com a combinação do vocalista Jeff Scott Soto e do guitarrista Bumblefoot, colegas da banda citada. A versão alternativa vem com Cuijpers de novo.

“Prescient” explora o lado mais progressivo, trazendo a apropriadíssima voz de Ross Jennings (Haken, Novena) combinada com a da nova figurinha carimbada dos projetos do Arjen, Micheal Mills (Toehider). A versão alternativa vem com Will Shaw. “Bridge of Life”, com o indispensável Damian Wilson, é uma das mais “staronísticas”, combinando teclados delicados e espaciais com riffs pesadíssimos. Sua versão alternativa vem com Wilmer Waarbroek.

Ter duas versões diferentes de cada música em que a única diferença notável é a troca de vocalistas parece mais uma desculpa para usar mais convidados do que qualquer outra coisa. Talvez investir em uns épicos com várias participações ou num disco duplo “de verdade” faria mais sentido.

Não é a primeira vez que Arjen lança um trabalho com duas metades gêmeas; em 2015, com o The Gentle Storm, ele editou The Diary (veja minha resenha aqui), em que todas as faixas apareciam duas vezes: uma acústica e folclórica e outra pesada e suja. Neste caso aqui, as canções são exatamente iguais no disco 2, só que com outros vocalistas (e, no caso de “The Year of ’41”, com outro solo de teclado).

Não se deixem enganar pelo tom rabugento de alguns parágrafos desta resenha: Revel in Time, como quase tudo que o Arjen faz, é espetacular, de outro mundo, inacreditável. Mas justamente por eu ter que usar outros álbuns dele que são “espetaculares, de outro mundo, inacreditáveis” como parâmetro é que eu diria que este não foi o ápice do Star One, muito menos da carreira do gênio holandês. Mas com certeza mata a saudade.

Avaliação: 4/5.

Abaixo, o clipe da faixa-título:

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