Resenha: BluesMan – Tak Matsumoto

Reprodução da capa do álbum. O nome do disco aparece em vermelho no centro e o nome do guitarrista aparece logo abaixo, em preto. No topo, a frase "House of Strings presents" e no rodapé, também centralizado, um desenho de um violão

Reprodução da capa do álbum (© Vermillion Records)

Pode fazer resenha com um ano de atraso, Arnaldo? No caso deste álbum aqui, pode. Porque parece que o lendário guitarrista japonês Tak Matsumoto (B’z) não fez questão nenhuma de que brasileiros tomassem conhecimento de BluesMan, seu décimo segundo lançamento solo de estúdio, indisponível nas plataformas de streaming tradicionais. Isso mudou há alguns meses, quando a obra foi enfim liberada no Spotify.

E ela se mostrou uma aventura sonora digna do alto calibre do músico oriental. A abertura “Boogie Woogie AZB 10” é um ótimo cartão de visitas, exibindo seus lados hard rock, soul e blues tudo ao mesmo tempo agora. Ela dita a tônica do trabalho.

“Actually” dá continuidade a essa tônica e traz bem-vindos vocais do antes aposentado lendário cantor japonês Kyosuke Himuro. Eu a teria guardado para um ponto mais ao meio da lista de faixas, para deixá-la ainda mais especial. Colocá-la logo no início gera uma expectativa por mais músicas cantadas que não se concretiza.

“Here Comes the Taxman” vem com dosagem sinfônica e é uma das melhores, misturando isso com blues. Outra que se besunta toda de música clássica é a excelente “Tsuki Akari no Gotoku”, com toques orientais que levam o disco a mais um ponto alto.

Entre elas, temos dois pontos altos: “Be Funky”, com um dos instrumentais mais envolventes e empolgantes de todos; e “Rainy Monday Blues ~ Ibara no Michi”, que combina riffs pesados e agressivos com uma roupagem delicada, criando um contraste por demais interessante.

“Sazanami” continua a verve sinfônica, mas já não empolga tanto por perder muito gás. Começa aqui uma espécie de “montanha-russa”, com o álbum voltando ao alto com “Waltz in Blue”, uma valsa da mais alta estirpe; depois caindo de novo com a sereníssima “Hanabi” e a breve “Asian Root”.

A reta final volta o nível lá pra cima e não mais o derruba: “Good News” é talvez o rock mais diretaço do disco. “Arby Garden” tem uma pegada que deixaria os Beatles orgulhosos e tudo se encerra com a calma “Lovely”, cujo nome (“amável” em inglês) muito lhe faz jus.

Mesmo um ano depois, BluesMan ainda está em tempo de ser apreciado, pois foi feito por uma lenda – e lendas são atemporais por definição.

Avaliação: 4/5.

Abaixo, o vídeo de “Waltz in Blue”:

Resenha: Nova Sekai – Nova Sekai

Reprodução da capa do álbum 'Nova Sekai', da banda de mesmo nome. Trata-se da foto de um rochedo em um local desértico ante um céu noturno roxo-claro, com um fino anel de luz em volta de seu topo

Reprodução da capa do álbum (© William Gibson)

Esta provavelmente vai ser a resenha mais “às cegas” que já escrevi em dez anos de blog. Porque o objeto desta análise – Nova Sekai, de uma banda homônima japonesa – é algo muito, mas muito obscuro.

Explico: foi na Amazon.com, e muito por acaso, que tomei conhecimento deste disco cujo chamativo para mim foi a bela capa, que me remeteu ao cenário final do clássico Contatos Imediatos de Terceiro Grau (1977), de Steven Spielberg.

Só que tirando a presença nas plataformas digitais, é um grupo-fantasma. Tudo que se encontra sobre ele é o nome, a capa e as faixas da obra. Não dá pra saber quem toca os instrumentos, nem quantas pessoas estão envolvidas. Só posso dizer uma coisa: adoraria que “saíssem do anonimato”. Porque com certeza estamos falando de algo acima da média no que diz respeito ao metal progressivo instrumental.

A música do Nova Sekai, que tem ainda suaves aromas de stoner e thrash, dá certo muito devido à ciência que cada integrante tem quanto a sua função em cada uma das cinco peças. Quando é para prover uma boa base, eles provêm uma boa base. Quando é para solar com maestria, eles solam com maestria. Isso fica bem claro na relativamente breve abertura “~B I L L Y T I M E~”, bem como em sua sequência “Here Were Dragons”.

Parece uma descrição boba do som deles, mas é que nem sempre essa divisão de papeis parece óbvia para aqueles que acabam tornando a música uma batalha de “egos”. Aqui, tudo está muito bem azeitado e “fluindo como óleo”, como diria Mozart. Posso deduzir que o trabalho não envolveu gente em início de carreira.

De todos as pessoas tocando (seja quantas forem), a que mais me chamou a atenção foi a que empunha as baquetas, algo raro. O jeito que ela (ab)usa (d)os pratos, sei lá, é diferente.

A pessoa responsável pelas teclas também já tem lugar reservado no meu coração. Além de se destacar ao longo do álbum todo, ela ganha um solo inteiro em “Retro Runner”, uma peça 8-bit que empolgará até o mais tr00 666 from hell dos provavelmente pouquíssimos que sequer chegarão a ouvir este disco.

Correspondendo a praticamente 1/3 do lançamento, a quinta e última canção, “Raised By Giants”, não justifica seus doze minutos e meio, sendo um clássico exemplo de música esticada, e não longa. Riffs são repetidos à exaustão, com participação diminuta do/a tecladista.

Mas este pequeno detalhe – comentário irônico para uma peça épica, não? – não muda o bom resultado da obra, que oferece mais ou menos o que seu título promete misturando latim com japonês – um “novo mundo”.

Avaliação: 5/5

Abaixo, a faixa “~B I L L Y T I M E~”:

Resenha: No Democracy – GLAY

capa do álbum No Democracy, de Glay

Reprodução da capa do álbum (© Pony Canyon)

Para marcar seu 25º aniversário enquanto grupo mainstream (a banda de fato existe desde 1988) e também seu 15º lançamento de estúdio, o quarteto japonês de pop rock GLAY deixou em 2019 uma marca chamada No Democracy.

Se o bom Summerdelics (2017; clique aqui para conferir minha resenha a respeito) era um trabalho de “volta às raízes”, este produto aqui vê os rapazes mantendo um pé nessas raízes e outro na musicalidade mais sofisticada e densa dos três discos anteriores (Justice, Guilty (clique aqui para conferir minha resenha a respeito destes últimos) e Music Life).

A abertura sinfônica “REIWADEMOCRACY” deixa isso bem claro, ainda que sua sequência “Hansei no Iro Nashi” dê preferência para o rock cru deles. A primeira que empolga é a saudosista “Flowers Gone”, com toda aquela pegada indie de seus trabalhos iniciais. E não se deixe enganar pelo jeitão de balada de “Koori no Tsubasa”, pois o seu minuto final é um jazz delicioso – e só a performance de Jiro no baixo já compensa e muito a audição.

O “meião” do álbum deixa um pouco a desejar. Temo bons momentos como a empolgante “Ah, Mujou” e “Just Fine”, com uma guitarra que lembra Tak Matsumoto (B’z) em alguns momentos – ele produziu o primeiro disco solo do guitarrista rítmico e principal compositor e letrista do GLAY, Takuro (que assina a música e a letra desta faixa), então faz todo sentido.

Inclusive, vale lembrar que ele volta a reinar nas composições e letras desta obra, diferentemente da anterior, em que os outros membros haviam recebido mais espaço autoral.

Voltamos a ter um destaque em “Anata to Ikite Yuku”, com um riff bem original e trabalhado ao lado das cordas, e a balada “Colors”, que não surpreende quem conhece a discografia do quarteto, mas mesmo assim destoa da mesmice que imperou nesta segunda metade.

“Urei no Prisoner” resgata aquele “quê” de abertura/encerramento de anime que o grupo sempre teve e o encerramento “Gengou” traz como diferencial um belo adorno de gaita.

Pesando tudo, No Democracy foi um disco bom e que faz jus aos marcos que ele representa, ainda que permaneça aquele sentimento, aquela impressão de que a banda poderia ter entregue ainda mais.

Nota = 4/5.

Abaixo, o clipe de “Colors”: