Resenha: Creepy Symphonies – Trick or Treat

ilustração de dois tocandos violino e violoncelo em um cmeitério à noite, com espíritos saindo dos instrumentos e voando pelo local. O logo da banda aparece no topo, ao centro, e o nome do disco vem no rodapé, também centralizado.

Reprodução da capa do álbum (© Scarlet Records)

Uma das bandas mais importantes da onda atual do power metal, o quinteto italiano Trick or Treat está numa sequência implacável de lançamentos: um projeto ambiciosos intitulado The Legend of the XII Saints, com cada música homenageando um Cavaleiro do Zodíaco (clique aqui para conferir minha resenha a respeito); uma coletânea de raridades (The Unlocked Songs) e agora o sétimo disco de estúdio, Creepy Symphonies.

Este trabalho de certa forma configura uma volta às raízes, considerando que se trata do primeiro em mais de dez anos que não é conceitual e traz somente material inédito. E ele prova que o grupo ainda manda muito bem em terrenos mais “livres”.

O single e faixa-“quase”-título “Creepy Symphony”, empolgante, dita o ritmo geral da obra enxuta, porém competente. “Escape from Reality” e a épica “The Power of Grayskull” são os outros pontos altos, com grandes chances de empolgarem os fãs mais sedentos por agressividade. “April” sobra como a balada, melosa até dizer chega.

Uma coisa que chama a atenção neste álbum é o “realismo” de algumas músicas. Para uma banda acostumada a falar de temas fantasiosos, discutir o meio ambiente (“Have a Nice Judgment Day”), a rotina da classe trabalhadora (“Crazy”) e a obsessão por “reconhecimento” nas redes sociais (“Queen of Likes”) provê uma bem-vinda lufada de maturidade no som desta galera cujo som é tão jovial que quase nos esquecemos que eles já rodam há impressionantes 20 anos.

Outro ponto que merece destaque é a performance do baixista Leone Villani Conti. Proeminente na maioria das faixas, ele ataca até de solista em “Falling over the Rainbow” e “Queen of Likes”.

Pela falta de um tema ligando as canções, Creepy Symphonies no futuro pode acabar virando um item discreto na discografia do quinteto, mas no momento, aqui em 2022, é indubitavelmente um ótimo lançamento do gênero do power metal para o ano.

Avaliação: 4/5.

Abaixo, o clipe da faixa-título:

Resenha: Glory for Salvation – Rhapsody of Fire

ilustração de um homem ajoelhado e agonizando enquanto uma figura humanoide gigante olha para ele com a mão levantada, como se estivesse lhe causando algum mal telepaticamente

Reprodução da capa do álbum (© AFM Records, arte por Alexandre Charleux)

Já a par da situação do nome “Rhapsody”, o fã sabe muito bem que o grupo “original”, que continua com o nome “Rhapsody of Fire”, mantém atualmente apenas o tecladista Alex Staropoli, agora acompanhado por Giacomo Voli nos vocais, Roby De Micheli na guitarra, Alessandro Sala no baixo e a novidade Paolo Marchesich na bateria.

Com este time ainda um tanto desconhecido, o quinteto italiano de power metal sinfônico chega nesta reta final (será?) da pandemia com o segundo álbum de estúdio de sua nova fase. Se o disco anterior deles, The Eighth Mountain (clique aqui para conferir minha resenha a respeito), agradava sem surpreender muito, neste aqui a história já é diferente.

Muito mais robusto, imponente e poderoso, Glory for Salvation é matador na maior parte de seus 60+ minutos de música. Não necessariamente pela velocidade das canções, mas também pela força e pelos arranjos.

“Son of Vengeance”, “The Kingdom of Ice” e “Infinitae Gloriae” agradarão aos apreciadores do gênero em sua forma mais oldschool, mas cumprindo o manual desta vertente, temos aquela empolgante pausa folclórica em “Terial the Hawk”, precedida pelo interlúdio acústico e igualmente folk “Eternal Snow”.

Outro destaque que merece comentários à parte é a épica “Abyss of Pain II”, que já é a obra-prima desta era pós-Lione, combinando corais apoteóticos com riffs dinâmicos e versos ora em inglês, ora em italiano.

Falando no nosso idioma irmão, a reta final de Glory for Salvation perde o gás em um punhado de baladas sem graça, incluindo uma que aparece duas vezes como faixas bônus, cada qual com letras diferentes. Quisera eu saber italiano para entender se valia tanto a pena assim ter a mesma música em duplicidade…

Vale ressaltar que a voz de Giacomo, mais azeitada na formação, já convence bem mais e começa a deixar seu próprio legado na história deste grupo que está prestes a trintar.

Eu finalizei minha resenha do disco anterior dizendo que seriam necessárias “mais uma ou duas produções para crucificarmos ou aplaudirmos com segurança a nova era do Rhapsody of Fire”. Bom, a não ser que eles patinem muito na próxima obra, podemos dizer tranquilamente que os novos detentores do lendário nome estão mandando muito bem.

Avaliação: 4/5.

Abaixo, o vídeo de “Chains of Destiny”:

Resenha: The Golden Pentacle – Marco Garau’s Magic Opera

duas figuras encapuzadas defronte um templo azul observam um pentagrama dourado em um pedestal. O objeto emite uma luz dourada que ilumina parte da construção. O nome do projeto aparece centralizado, ao topo, e o nome do álbum está no rodapé, também centralizado

Reprodução da capa do álbum (© Magic Opera; capa por Jan “Örkki” Yrlund da Darkgrove Design)

Diretamente da Itália, vem mais uma metal opera para disputar a atenção do fã: a Magic Opera, concebida pelo tecladista Marco Garau (Derdian). O primeiro álbum, The Golden Pentacle, chega neste mês de fevereiro com uma história original escrita pelo próprio Marco.

A trama acompanha a jornada de um mago malvado, Sir Dohron, que pretende obter o objeto-título do disco para assumir o controle do feliz e tranquilo reino de Amtork; e a luta do seu rival Lord Kama para impedi-lo. Parece familiar?

A formação é fechada com Anton Darusso (Wings of Destiny) nos vocais, Gabriel Tuxen (Seven Thorns) e Matt Krais (ShadowStrike) nas guitarras, Enrico Pistolese (Derdian) no baixo/vocais de apoio e Salvatore Giordano (Derdian) na bateria.

Sendo um tecladista o capitão deste barco, acaba havendo bastante destaque para o instrumento, trazendo mais solos para este do que para a guitarra e adornando as canções com muitos toques sinfônicos que dão o tom geral da obra.

O trabalho é indicado para quem gosta de Rhapsody of Fire, Avantasia, Ancient Bards, At Vance, Gloryhammer, Twilight Force e afins. Com isto, estou sugerindo, é claro, que a música do projeto consiste em uma mescla de power metal agressivo e acelerado com elevadas doses de música clássica.

O álbum se equilibra na tênue linha que separa o metal sinfônico do neoclássico, na medida em que algumas faixas têm seu som básico preenchido por orquestrações, mas em vários momentos a guitarra assume fraseados eruditos e faz até dueto com os teclados.

As peças que destoam desta “fórmula” são, por exemplo, a lenta e marchante “Fight for the Victory” e a bela balada “The Other Side”, bem superior à média de baladas que sempre acabam vindo parar em discos deste tipo. Vale salientar que não há aqui qualquer faixa épica, embora duas passem dos sete minutos.

The Golden Pentacle é um prato cheio para quem gosta de power metal sinfônico com uma história para “dar liga” às músicas. Se a metal opera apostar talvez em mais vocalistas convidados e em canções um pouco mais diversas, poderá ser candidata a suceder projetos mais bem estabelecidos como o Avantasia.

Avaliação: 4/5.

Abaixo, o lyric video de “Thief of Souls”:

* O álbum The Golden Pentacle foi enviado digitalmente ao autor do blog pela banda e a resenha foi escrita por sugestão da mesma.