Resenha: II: Those We Don’t Speak of – Auri

capa do álbum, com o logo da banda em destaque ao centro e o nome do álbum em fonte bem menor logo abaixo, também centralizado

Reprodução da capa do álbum (© Nuclear Blast Records)

Enquanto a pandemia não acaba de vez, o líder e tecladista do Nightwish, Tuomas Holopainen, achou por bem dar prosseguimento ao projeto paralelo que mantém com sua esposa, Johanna Kurkela (vocais), e seu colega de Nightwish Troy Donockley (sopros, violões, guitarra, vocais).

Rotulado por mim mesmo como “o Blackmore’s Night de Tuomas”, o Auri segue um caminho mais orgânico, místico e acústico que o quinteto de metal sinfônico, mas nem por isso menos pretensioso e profundo.

Tal como no disco anterior (clique aqui para ver minha resenha a respeito), II: Those We Don’t Speak of é bastante contemplativo e parece ser feito mais para envolver do que para desafiar os ouvidos.

É bastante coeso, com quase todas as faixas seguindo uma fórmula que parece ter sacrificado a diversidade em nome da emoção. A fórmula, no caso, consiste em permitir que a penetrante voz de Johanna, vez ou outra acompanhada pela de Troy, seja adoçada por cordas singelas e flautas cirúrgicas para criar aquele som típico do trio.

Isso não privou a obra de alguns pontos fora da curva, como “Pearl Diving”, talvez a música mais ousada e densa que eles já criaram, com direito a uma guitarra com aromas de Mike Oldfield, conterrâneo de Troy.

Outros destaques são “Scattered to the Four Winds”, com uma dosagem sinfônica acima da média para o Auri, e “Kiss the Mountain”, uma das mais tocantes. Mas escrevo isto ciente de que neste álbum, até mais do que em outros de outras bandas, a subjetividade fala muito alto e o que me pareceu banal pode ter sido espetacular para outros, e vice-versa.

Embora talvez menos impressionante que a estreia (da qual não sabíamos exatamente o que esperar), II: Those We Don’t Speak of ainda empolga o suficiente para colocar um sorriso na boca da maioria dos fãs – e até na de quem ainda não se rendeu ao simpático trio anglo-finlandês.

Avaliação: 4/5.

Abaixo, o lyric video de “Pearl Diving”:

Resenha: Mustan Sydämen Rovio – Marko Hietala

Reprodução da capa do álbum (© Savonian Rooster)

Foi como “hard progressivo” que Marco Hietala, mais conhecido como vocalista e baixista das bandas finlandesas Nightwish e Tarot, definiu o som de Mustan Sydämen Rovio, seu primeiro álbum solo em pouco mais de 50 anos de vida, e para o qual ele adota a variação ‘Marko’ de seu primeiro nome.

O termo “hard progressivo” normalmente nos remete a nomes arrojados como Rush e Sons of Apollo, mas o som que o barbudo finlandês (que deu um pulo recente no Brasil para se casar) imprime em sua estreia a solo é, na verdade, algo um pouco mais abrangente que uma mera mistura de hard rock com progressivo.

Existem cordas suficientes para considerarmos que o trabalho engloba também os gêneros folk e sinfônico. Ao mesmo tempo, a levada das guitarras em certos momentos nos faz pensar em algo tão básico quanto heavy metal tradicional.

Como costuma acontecer em lançamentos solo de quem já carrega nas costas a experiência de décadas em nomes diversos, Mustan Sydämen Rovio não é exatamente direto. Ele propõe novas direções a todo momento, ainda que sem sair de um determinado universo musical.

Por exemplo, a abertura “Kiviä” nos leva a crer que estamos diante de uma espécie de cruzamento de Korpiklaani com Nightwish. Mas a sequência “Isäni Ääni” já direciona o som para algo mais melancólico.

“Tähti, Hiekka ja Varjo”, que abre com riffs eletrônicos que deixariam o Stratovarius moderno com um sorriso no rosto, logo deságua num metal moderno com toques de power e do próprio Nightwish. O peso evolui em “Kuolleiden Jumalten Poika”, com um instrumental relativamente cru, uma entrega vocal acima da média do álbum e potencial para ser single.

“Laulu Sinulle”, a mais longa da vez, destoa bastante de suas companheiras ao adotar uma roupagem alternativa e altamente sintética, que lentamente se transforma no momento mais progressivo do disco – mas nem de longe o mais interessante.

Melhor é sua sucessora “Minä Olen Tie”, que também evolui aos poucos, mas para algo mais empolgante, incluindo riffs fortes e um solo fritado que à primeira ouvida parece se esforçar para se encaixar na proposta mais pé no chão do lançamento, mas no fim acaba dando certo.

Na verdade, a segunda metade da obra é a sua melhor parte. “Juoksen Rautateitä” e “Totuus Vapauttaa” são sem dúvidas o ponto alto em termos instrumentais por serem dinâmicas e altamente empolgantes, com trabalhos no órgão por parte de Vili Ollila que fariam Rick van der Linden sorrir em seu túmulo, não tivesse ele sido cremado. O time do disco envolve ainda o baterista Anssi Nykänen e o guitarrista Tuomas Wäinölä.

“Unelmoin Öisin” desacelera o ritmo das coisas sem deixar a peteca cair, preparando o terreno para o encerramento acústico “Totuus Vapauttaa”, carregado de emoção e recheado de cordas.

Marko Hietala faz em Mustan Sydämen Rovio uma sólida estreia solo, com muitos motivos para torcermos por uma continuação, ainda que saibamos que ela pode levar um bom tempo – principalmente porque os ensaios do novo álbum do Nightwish já começaram, conforme post recente do líder Tuomas Holopainen.

Nota = 4/5.

Abaixo, o vídeo de “Isäni Ääni”:

Resenha: Auri – Auri

Reprodução da capa do álbum (© Nuclear Blast)

Enquanto o sexteto finlandês de metal sinfônico Nightwish lança sua compilação Decades e trabalha na subsequente turnê, o líder e tecladista da banda, Tuomas Holopainen, decidiu se aventurar com sua esposa, Johanna Kurkela, num projeto paralelo de folk acústico e levemente sinfônico.

E foi assim que Tuomas criou seu próprio Blackmore’s Night, chamado Auri, com a diferença que o grupo tem ainda um terceiro elemento – no caso, Troy Donockley, colega de Tuomas no Nightwish. É praticamente um spin-off da equipe envolvida na criação de Music Inspired By The Life and Times of Scrooge (resenhado neste blog), disco solo do tecladista.

E não chega a ser descabido comparar o Auri com o Blackmore’s Night. As diferenças mais marcantes residem no timbre de voz das vocalistas (com Candice Night apresentando um tom levemente mais grave), e no instrumental. Ritchie Blackmore, guitarrista, transforma o violão e outros instrumentos de cordas em protagonistas no som, enquanto que o trio verá o piano de Tuomas, o violoncelo de Johana e as flautas de Troy construindo a parte não-vocal do disco de estreia deles, autointitulado.

O álbum é um tanto contemplativo, no sentido de que o som muitas vezes se manifestará de forma a envolver-nos em uma atmosfera relaxante. Algumas mal possuem letras propriamente ditas, como “The Name of the Wind” e “Savant”.

Mas há espaço para trabalhos um pouco mais convencionais, como a abertura “The Space Between”, “Aphrodite Rising”, a rítmica “See” e o single “Night 13”, belamente interpretado por Nicholas Minns em vídeo que você pode conferir ao final da resenha.

Os belos vocais de Johanna ajudam a construir aquela atmosfera supracitada, ganhando corpo em “Desert Flower”, um dueto com Troy, que vem se mostrando uma interessante alternativa a Marco Hietala no Nightwish. Nas outras faixas, ele e Tuomas limitam-se, vez ou outra, a fazer um contraponto masculino à cantora.

Tuomas, que controla quase tudo em sua banda principal, será ouvido aqui muito mais como compositor do que como executante. Há vários momentos do álbum que remetem a seu disco solo e a músicas típicas do Nightwish, mas os pianos e teclados dele têm papel limitado se comparado às cordas, aos sopros e à voz de sua esposa. E ainda bem que foi assim: o som do Auri é exatamente o que deveria ser.

Talvez o fã sedento por guitarras sinta falta do fator metal, mas o trio nunca prometeu algo do gênero. E, nem por isso, o projeto perde valor – afinal, ainda está para nascer algo ruim que tenha passado pelas mãos de Tuomas.

Nota = 4/5.

Abaixo, o vídeo de “Night 13”: