Resenha: Transitus – Ayreon

Reprodução da capa do álbum 'Transitus', de Ayreon. Trata-se do nome do disco e do projeto em fonte estilizada e abrasiva, ante um fundo vermelho retratando um mar e um céu quase em chamas

Reprodução da capa do álbum (© Mascot Label Group)

Um período de três anos extremamente produtivos separam The Source, o fantástico nono álbum do Ayreon (clique aqui para conferir minha resenha a respeito), de Transitus, seu sucessor. Pela primeira vez, o gênio por trás do projeto, o holandês Arjen Anthony Lucassen, resolveu montar uma turnê, que rendeu até CDs e DVDs. Pena que o próprio não participou da maioria das apresentações…

E em 2020, encarou o desafio de, uma vez mais, aglomerar (mas a distância) um time de músicos de primeira para materializar o décimo lançamento da melhor metal opera de todas.

O time de vocalistas, desta vez, envolve vozes majoritariamente novas: Cammie Gilbert (Oceans of Slumber), Johanne James (Kyrbgrinder, Threshold), Caroline Westendorp (ex-The Charm the Fury), Paul Manzi (ex-Arena), Dee Snider (Twisted Sister), Amanda Sommerville (Trillium, HDK) e Dianne van Giersbergen (Ex Libris), sem contar o narrador Tom Baker (sim, o quarto Doctor Who).

Os “veteranos” da vez são Tommy Karevik (Kamelot, Seventh Wonder), Simone Simons (Epica), Marcela Bovio (Elfonia, MaYaN, ex-Stream of Passion) e Michael Mills (Toehider). Tommy e Michael, vale lembrar, aparecem pela terceira vez consecutiva, algo incomum no elenco vocal de Arjen.

No caso de Michael, é até compreensível, dada sua grande extensão vocal e sua capacidade de convencer como um pai frio e ausente (The Theory of Everything; clique aqui para ver minha resenha); como uma máquina (The Source) e agora como uma… estátua falante. Mas Tommy, em que pese ser um vocalista indiscutivelmente talentoso, não me parece merecer mais aparições que outras tantas grandes vozes.

Quando expressei minha leve decepção quanto a isto no post de Arjen anunciando o vocalista, ele se defendeu afirmando que, quando pensa num personagem, pensa num vocalista em particular, independentemente do sujeito ter aparecido anteriormente ou não. Então tá.

Completam as vozes Dan J. Pierson, Jan Willem Ketelaers, Lisette van den Berg, Marjan Welman, Will Shaw e Wilmer Waarbroek como os aldeões (só Arjen mesmo para precisar de “vocalistas figurantes”) e o coral Hellscore, regido por Noa Gruman.

Todas essas vozes nos contarão uma história fora do enredo usual do Ayreon, isto é, nada de alienígenas colonizando a Terra e observando o comportamento humano. Desta vez, temos uma história com aromas de Romeu e Julieta, na qual o protagonista Daniel (Tommy) já começa morrendo e é enviado pro submundo, onde ganha uma rara chance de repassar sua vida e tentar se reconectar com sua amada Abby (Cammie), injustamente acusada por sua morte.

Só que essa história não nos é contada apenas nas letras. Transitus envolve também uma…revista em quadrinhos! Sim, são mais de 20 páginas ilustradas por Felix Vega e cujo conteúdo eu infelizmente não tive acesso, motivo pelo qual chego a afirmar que esta é uma “resenha parcial”.

O time de instrumentistas tem, além de Arjen nas guitarras, baixo e teclados, algumas figurinhas carimbadas, como Joost van den Broek no órgão e piano; Ben Mathot no violino e Jeroen Goossens nas flautas.

Mas temos também algumas novidades interessantes, como Jurriaan Westerveld no violoncelo, Alex Thyssen na trompa, Thomas Cochrane no trompete e trombone, Patty Gurdy no Hurdy Gurdy e… Juan van Emmerloot na bateria! Ed Warby, praticamente um membro oficial dos projetos de Arjen, não empunhou as baquetas em Transitus porque quando o gênio começou a escrever as músicas, ele não achava que elas virariam um disco do Ayreon, então ele chamou outro baterista.

Os dois solistas ilustres da vez são Joe Satriani e Marty Friedman (ex-Megadeth), dois gigantes, mas… ainda apenas dois, ante os usuais quatro ou cinco, o que nos traz outra leve decepção.

Há pouco, eu disse que quando Arjen começou a escrever as músicas, ele achava que elas seriam para qualquer outra coisa que não algo do Ayreon. No fim, sabe-se lá por quê, ele colocou sua marca mais conhecida na capa, mas são notáveis as surpresas que o lançamento duplo nos reserva.

Começamos com a maior “abertura” da história do projeto. Alguns dirão que estou enganado, que “The Day That the World Breaks Down” (do The Source) era maior. Sim, mas esta era uma canção “convencional”, apesar do tamanho, não exatamente uma abertura. Mas “Fatum Horrificum” tem quase dez minutos de narração e de “preparação musical” para uns dois minutos de “enredo” de fato. Ganha pontos por mostrar logo de cara as diversas facetas que suas sucessoras nos mostrarão.

A primeira surpresa do álbum (se é que todo o conceito em volta dele já não é, por si só, uma grande surpresa) é “Listen to My Story”, cujo arranjo de metais deixaria o Diablo Swing Orchestra com inveja.

Acontece que “Listen to My Story” é parte de uma “tríade de novidades”. Ou quase. Explico: Depois dela, temos “Two Worlds, Now One”, com uma atmosfera deliciosamente soturna e, praticamente, jazz. E fechando esse trio, o single “Talk of the Town”, uma das faixas folk que Arjen sempre mete em seus discos do Ayreon. Exceto que desta vez o clima medieval é tamanho que parece um trabalho extraído do The Gentle Storm, o projeto meio folk, meio metal que Arjen lançou em 2014 com Anneke van Giersbergen (sem parentesco com Dianne).

Depois de “Dumb Piece of Rock”, que seria “só mais uma” não fosse Michael falando como uma estátua insegura de si mesma à qual Daniel recorre por ajuda, chega o single “Get Out! Now!”, provavelmente o ponto alto do Disco 1, quiçá da obra toda. Pudera, temos Dee Snider nos vocais principais (interpretando o pai do protagonista) e Joe Satriani num solo de guitarra de tirar o fôlego. E a última coisa que ouvimos na primeira metade é um etranhamente aliviante e reconfortante “you got this!” (você consegue!”), quase que sussurrado por Simone.

O Disco 2 impressiona menos e dilui mais (são 13 faixas contra 9 no anterior, sendo várias delas pouco mais que interlúdios), mas ainda tem muitos pontos altos, a começar pelo single “Hopelessly Sleeping Away”, cuja roupagem relativamente minimalista permite a Tommy e Cammie apresentarem um dueto de arrepiar a espinha.

“Message From Beyond”, a exemplo de “Two Worlds, Now One”, chega soturna e carregada quase que nas costas por uma irresistível e charmosíssima linha de baixo e, claro, pelo solo de Marty Friedman. Junto ao single mencionado no parágrafo anterior, é o ponto alto da segunda metade.

Um dos melhores clichês do Ayreon acabou não utilizado aqui: um encerramento com todos os personagens reprisando falas suas (embora a última faixa, “The Great Beyond”, recupere riffs de “Talk of the Town”). Dada a história singular, é bastante compreensível. Falando em reprises, “Your Story Is Over” (a antepenúltima) reprisa “Listen to My Story”, só que desta vez a letra vem na perspectiva de Abby.

Embora a narrativa seja apresentada daquele jeito bem objetivo e típico dos projetos do Arjen, temos aqui nuances e detalhes que enriquecem a poesia, como o verso de “Get Out! Now!” em que Daniel chama o pai de “twisted” (algo como “distorcido”, “anormal”), em óbvia referência à banda de Dee Snider, Twisted Sister. Ou então em “Listen to My Story”, quando Daniel pergunta à Anja da Morte quem “diabos” ela é.

Por sua natureza singular e pela presença de elementos inéditos, Transitus pode ser talvez a obra mais ambiciosa do projeto e, ao mesmo tempo (ou talvez por conta disso) uma das mais difíceis de digerir. De qualquer forma, repete o feito da maioria de suas antecessoras: será presença obrigatória nas listas de melhores lançamentos de 2020 – pelo menos naquelas que não forem criadas só para fazer média com gravadoras.

Avaliação: 5/5.

Abaixo, um clipe especial de um medley centrado em “Listen to My Story”:

Guitarra: Meus 51 solos favoritos

Foto: Victor de Andrade Lopes

O instrumento-símbolo do rock ‘n’ roll, quando operado pelas mãos certas, é capaz de produzir coisas as quais somos incapazes de colocar em palavras (com todo respeito ao van Canto).

Um dos elementos mais importantes do rock e de outros gêneros é o solo, momento em que o instrumento brilha com destaque e ajuda a escrever a história da música. Inspirado por aqueles que mais me marcaram, decidir compilar uma lista com os meus 51 favoritos.

Metodologia e curadoria


Por que 51? Bem, falemos um pouco de como surgiu e foi montado este ranking. Ele é totalmente pessoal – termo que aqui significa “criado a partir do meu gosto como fã e não com base numa análise jornalística fria, muito menos com a pretensão de fazer média com fãs e gravadoras”. Assim, muita coisa boa ficou de fora. Muita coisa mesmo. Só pra dar dois exemplos, Eric Clapton e Tak Matsumoto entrariam facilmente no meu top 10 guitarristas, mas não constam na lista.

A lista preliminar continha quase 200 solos, mas cheguei à acertada conclusão de que se 200 coisas são consideradas “especiais”, então nenhuma delas é, de fato, especial. Fui lentamente reduzindo tendo míseros dez solos como meta, mas o número era insanamente restritivo e “travei” bem antes, na quantidade definitiva de 51. Simplesmente não consegui descartar mais nenhum. Era o sinal de que a seleção estava finalizada.

De modo a facilitar a tarefa de curadoria, e evidentemente com muita dor no coração, deixei de fora solos em faixas instrumentais e também solos que são músicas inteiras, como o clássico “Eruption”, do Van Halen.

Com mais um tanto de dor, excluí solos que são na verdade apenas frases em loop, como o belíssimo encerramento de “Let It Grow” do já mencionado Eric Clapton, ou a inconfundível abertura de “Sweet Child O’ Mine”, do Guns ‘N’ Roses (executada por Slash).

Descartei, por fim (desta vez sem dor nenhuma), solos que eu gosto por fazerem parte de algum duelo com teclados – uma lista separada será compilada um dia para estes casos. Até tem um ou outro duelo nesta lista aqui, mas aí é porque a parte de guitarra me marcou muito mais que a de teclado.

Por fim, vale dizer que as escolhas podem ter sido “contaminadas” por outros fatores. Por exemplo, esforcei-me para deixar de fora solos que eu senti gostar apenas por fazerem parte de músicas que eu gosto muito como um todo.

Mas também fica a pergunta: o que faz um bom solo? É só o solo em si? Ou um bom pano de fundo é necessário, especialmente na forma de um bom riff? Foi nesse sentido que retirei mais alguns infelizes: o que mais me fisgava neles eram os riffs da base, não o solo em si…

Pois bem, aqui está a lista, com solos de todos os tipos. Aqueles fritados que criam bolhas nos dedos de quem se atreve a tocá-los, e outros bem lentos. Alguns tão curtos que podemos apelidá-los de “ejaculação precoce”, e outros tão longos que superam a duração de uma música convencional. Os bem crus de bandas “sem frescura”, como dizem por aí, e outros que se destacam em meio a camadas e mais camadas de vozes simultâneas. Alguns são executados por artistas solo, outros por membros oficiais de uma banda, outros por músicos de apoio, outros por convidados especiais e, pasmem, aqui vai ter até solo que eu sequer sei quem toca por não ter encontrado fontes confiáveis que atestassem a informação. Se algum(a) leitor(a) iluminado(a) quiser contribuir, faça as honras! 😉

O formato da lista é o seguinte: A hashtag indica a colocação do solo neste ranking. Entre aspas, o nome da música. Após o traço, o nome do guitarrista e, entre parênteses, o artista da música (se não for o próprio guitarrista) e, se for o caso, a indicação de que é músico contratado ou convidado. Os vídeos estão configurados para começarem exatamente no solo ao se apertar o “play”, já que eles são o objeto de discussão deste post, mas todos sabemos que para a experiência ser completa, é preciso ouvir as músicas desde o início – inclusive aquelas bem longas. Combinado?

#51: “Lá Vou Eu” — Paulo Rafael (Zélia Duncan; músico de apoio)
Em 1994, ainda não muito conhecida, Zélia Duncan lançava um disco de inéditas e alguns covers. Um deles é “Lá Vou Eu”, uma das músicas mais paulistanas da história e gravada originalmente por Rita Lee e sua banda Tutti Frutti 18 anos antes. Quem executa o solo “rebelde” (por fazer a lista ficar com 51 itens) é Paulo Rafael, guitarrista de apoio bastante gabaritado. Seu currículo soma trabalhos com inúmeros artistas nacionais consagrados como Elba Ramalho, Cássia Eller, Gal Costa, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, entre outros. A versão original traz outro solo, mais ao final da música, mas bem menos marcante.

#50: “Bright Lights” — Gary Clark Jr.
Quanto tempo leva para a polícia vir aqui me buscar pelo crime de deixar esta jovem lenda numa posição tão baixa nesta lista? Brincadeiras à parte, não discutiria com alguém que dissesse que ele tem solos melhores. A verdade é que esta música foi a primeira que eu ouvi dele (valeu, Luke Cage!) e mesmo após passar por toda a sua discografia, continua sendo minha favorita. E é claro que isso influenciou muito na escolha…

#49: “A Lenda” — Junior (Sandy & Junior)
Parece piada, mas não é. Esta que é uma das mais belas canções brasileiras de todos os tempos (composta por integrantes do Roupa Nova e regravada mais tarde pelos próprios) recebeu uma rica roupagem com direito a solo de violão, solo de guitarra (o assunto deste parágrafo), cordas e clipe romântico à beira do mar. Brega até dizer chega, mas who yes door? O solo obviamente não é nada espetacular e ainda por cima Junior sequer o executava na recente turnê de reunião da dupla. Mas continua sendo um elemento que marcou este grande sucesso de 20 anos atrás…

#48: “Lanterna dos Afogados” — Herbert Vianna (Os Paralamas do Sucesso)
Não está entre os hits absolutos d’Os Paralamas do Sucesso, mas além de figurar aqui, esta faixa foi selecionada também para constar entre “As 100 melhores músicas do século e as 14 mais”, por Ricardo Cravo Albin – e isto não é pouca bosta! O solo encerra com bastante vigor um dos mais tocantes itens do catálogo desta que é uma das maiores bandas nacionais. A versão precisa que deveria constar aqui é a do CD Sempre Livre Mix, um disco ao vivo em conjunto com os Titãs, mas como não está disponível no YouTube, fiquemos com esta, quase tão boa quanto.

PS: Inacreditavelmente, acabam aqui os solos de músicas em língua portuguesa desta lista – mas não será o último executado por um brasileiro…

#47: “Sleeping Sun” — Emppu Vuorinen (Nightwish)
Do ponto de vista técnico, dá para pinçar vários outros solos melhores na discografia do Nightwish: “End of All Hope”, “Wishmaster”, “Over the Hills and Far Away”, “Shudder Before the Beautiful”, “Eva”, entre outros. Mas “Sleeping Sun”, do alto de seus meros 15 segundos, conseguiu me conquistar pela emoção e simplicidade – repare que boa parte dele é apenas uma variação da melodia do refrão. E o fato de ser uma das melhores baladas do Nightwish, claro, só ajuda.

#46: “Corazón Espinado” — Carlos Santana (Santana)
Difícil pinçar um solo desta lenda viva que “fala” por meio de sua guitarra de timbre inconfundível. “Corazón Espinado” acabou sendo a única selecionada (apesar do mexicano ser um dos meus guitarristas favoritos) por motivos bem pessoais. Anos atrás (por volta de 2010, deduzo), fui a um bar em São Paulo conferir o show da banda de um amigo que era tecladista e saxofonista. Dentre as peças executadas, estava esta, e o guitarrista (cujo nome, infelizmente, eu sequer me lembro) hipnotizou a todos com sua performance, que continuou arrebatadora em outros hits como “Bad Love” e o tema de abertura de Peter Gunn.

#45: “Back in Black” — Angus Young (AC/DC)
Outra lenda difícil para pinçar um solo – e estamos falando de um dos guitarristas mais influentes de todos os tempos. Fiquemos então com esta pedrada que é um clássico absoluto não só do AC/DC, mas do rock em geral. Uma variação do icônico riff de abertura é usada como pano de fundo para Angus nos deliciar com esta performance abrasadora, que tem direito a uma continuação a partir dos 3:29, num encerramento cujo volume é a única coisa que se esvai.

#44: “Dani California” — John Frusciante (Red Hot Chili Peppers)
No momento, John está iniciando sua terceira passagem pelo Red Hot Chili Peppers. Em sua segunda, ele participou “apenas” dos três discos mais importantes e populares da banda, a trilogia arrebatadora Californication, By the Way e Stadium Arcadium. Este último é o disco mais encorpado, sofisticado e maduro que a banda já fez, e disputa com Blood Sugar Sex Magic o posto de melhor item da discografia do grupo. Dentre as várias pérolas que a produção dupla nos trouxe, está o primeiro single, o clássico “Dani California”. O solo que abordo aqui é um trabalho bem cru e visceral para os padrões da banda, encerrando esta música que trouxe também um riff e um refrão bem marcantes. Antes de fechar este parágrafo, gostaria de ressaltar que o quarteto possui outros dois grandes trabalhos guitarrísticos com Frusiante: “Lyon 06.06.06” e “Permutation”, lançadas como lados B de “Tell Me Baby” e “Snow ((Hey Oh))”, respectivamente. Nenhum dos dois figurou nesta lista por serem instrumentais, contudo.

#43: “New Math” — ??? (Mackenzie Phillips)
A primeira de razoavelmente várias faixas desta lista cujo guitarrista eu sequer sei o nome. Esta música é parte da excelente trilha sonora de So Weird, exibida como Sinistro aqui no Brasil 20 anos atrás, no saudoso Fox Kids. Esta série, juntamente a Ciência Travessa e O Colégio do Buraco Negro, marcaram minha pré-adolescência. No caso de Sinistro, a história girava em torno de uma cantora, interpretada pela talentosíssima Mackenzie Phillips (filha de John Phillips, do The Mamas & the Papas), que sai em turnê pelos Estados Unidos com sua filha e sua equipe e vivencia acontecimentos sobrenaturais na jornada. Recomendo fortemente outras músicas que integram a trilha sonora da série, como “She Sells”, “Rebecca”, “Origami” e o tema de abertura, “In the Darkness”.

#42: “Let’s Go Beybladers” — ??? (Krystal Band)
Dobradinha de guitarristas “anônimos”. Esta tal de Krystal Band parece ter existido somente para executar esta música que integrou a dublagem em inglês americano da primeira temporada de Beyblade, também uns 20 anos atrás. Estas peças, que depois foram redubladas para outras línguas que usaram a versão estadunidense como base, foram a única coisa boa que os yankees fizeram, uma vez que eles deturparam várias coisas no anime, que tinha tom sensivelmente mais maduro e sério na dublagem original japonesa. Nesta peça aqui, temos um pop punk basicão e de letra infantiloide, mas com um solo relativamente inspirado. Quem quiser, pode arriscar buscar no YouTube a versão brasileira da faixa, cujo nível final ficou inferior a esta.

#41: “At Wit’s End” — John Petrucci (Dream Theater)
Acostume-se com esta lenda, pois ela ainda vai aparecer muito nesta lista. O que me fisgou na faixa mais longa do mais recente álbum deles, Distance Over Time, não foi o duelo insano com o continuum do tecladista Jordan Rudess aos 3:44 – guardarei este tipo de momento para minha lista de duelos favoritos. A cereja do bolo aqui é o belíssimo solo de encerramento, inicialmente contraposto com os versos “don’t leave me now”. Quase não inclui este solo por considerá-lo algo muito próximo de “solos que são na verdade apenas frases em loop”, mas John faz variações suficientes para me impedir de classificar essa passagem desta forma.

#40: “La Vita È Adesso” — presumidamente, Paulo Lourenço (Renato Russo; músico de apoio)
Um mistério ronda este solo e esta faixa como um todo. A música não consta nos streamings oficiais deste ótimo disco solo de Renato Russo. No encarte do álbum, por sua vez, ninguém aparece como responsável pelas guitarras nesta música. Deduzi Paulo Lourenço como o músico em questão por ele constar como guitarrista no resto do álbum, mas não ponho minha mão no fogo por esta informação. A falta de clareza não nos impede, porém, de apreciar esta maravilha…

#39: “E=mc²” — Michael Romeo (Ayreon; participação especial)
A segunda colaboração do virtuoso guitarrista estadunidense Michael Romeo na metal opera Ayreon (que reaparecerá na lista algumas vezes), do gênio holandês Arjen Anthony Lucassen, é quase tão magnífica quanto a primeira, que ganhou colocação mais alta. Esta faixa aborda um trecho do enredo do álbum em que um casal de cientistas de 2085 tenta enviar a equação mais famosa de Albert Einstein para o passado de modo a alertar a humanidade dos perigos que virão. Eles fracassam no final, mas eu gosto de pensar que o solo é o clímax da história, ou seja, a última tentativa.

#38: “Candy” — Charlie Singleton (Cameo)
O solo mais “ejaculação precoce” desta lista, com menos de dez segundos. Quem realmente é lembrado por esta canção, porém, é Michael Brecker, que também entrega um solo, mas de saxofone. Nem o fato dela ter figurado na trilha sonora do inesquecível Grand Theft Auto San Andreas, nem o fato de ser comumente sampleada por aí garantiram que o solo de guitarra de (presumidamente) Charlie Singleton se tornasse tão lendário quanto a própria faixa. Admito que temos aqui um funk pop de qualidade questionável, mas eu simplesmente amo esse solo nada a ver que irrompe no começo do terceiro minuto e vai embora como se nunca tivesse existido.

#37: “Rise Above the Storm” — ??? (Daniel LeBlanc and Creighton Doane)
Mais um solo de artistas absolutamente desconhecidos que parecem ter existido somente para registrar um item da trilha sonora de Beyblade. Esta música aqui só foi usada na terceira e melhor temporada (G-Revolution). Mais uma cortesia da dublagem estadunidense, como se para compensar o tamanho do estrago que causaram na tradução infantiloide. A boa notícia é que esta faixa tem letra “neutra”, isto é, não precisa ser necessariamente só sobre Beyblade, diferentemente da “Let’s Go Beybladers” mais acima.

#36: “Innocence” — Hugo Mariutti (Shaman)
Uma das mais belas baladas já criadas por nosso eterno e saudoso Andre Matos, cantor e pianista cuja morte acaba de completar um ano. Esta aqui, ele fez para o segundo disco do Shaman, grupo que montou com os ex-integrantes do Angra que levou consigo após romper com o dito-cujo. Nesta peça, apresentada a mim por um amigo de escola, temos um belíssimo solo de Hugo Mariutti.

#35: “The Piper at the Gates of Dawn” — Sascha Paeth (Avantasia)
Um dos solos mais recentes desta lista, oriundo de um álbum do início de 2019. Sascha Paeth virou o guitarrista de praxe do Avantasia há um bom tempo e também em 2019 realizou enfim sua estreia solo. Aqui, ele entrega uma perfomance das mais inspiradas de sua vasta lista de contribuições para a metal opera. Não se deixe enganar pelo começo relativamente apático e repetitivo, pois o solo se libera de si mesmo na segunda metade ao adquirir uma alma mais própria e acelerada. É Sascha duelando consigo mesmo!

#34: “The Parting” — Steve Hackett (Ayreon; participação especial)
“Infelizmente”, este solo vem pouco depois de um dos berros mais épicos da história do metal mundial (1:29), o que pode ofuscá-lo injustamente. Mas fato é que Steve Hackett, o único guitarrista convidado deste maravilhoso disco do Ayreon que foi mais focado nos teclados, deixou aqui um trabalho da mais alta estirpe.

#33: “Amoeba” — Rikk Agnew (ou talvez Frank Agnew) (Adolescents)
Uma das músicas mais famosas deste lendário supergrupo punk, cuja popularidade foi impulsionada pela inclusão da mesma nas trilhas sonoras de Tony Hawk’s Pro Skater 3 e Grand Theft Auto V. Há dois solos aqui: o que motivou a inclusão desta canção nesta lista e o solo de encerramento (aos 2:20), que vale tanto a pena quanto. Não sei exatamente qual dos dois irmãos faz a guitarra solo aqui, mas analisando vídeos da época em que tocavam no grupo, é mais provável que seja Rikk.

#32: “Beloved” — Hisashi (GLAY)
O GLAY, uma das melhores bandas do rock japonês, nunca fez assim, digamos, um rock pesadão e malvado, mas nem por isso são menos respeitáveis quando se fala do que fazem com as guitarras. E em “Beloved”, balada dos primórdios deles, o guitarrista solo Hisashi mostra por que é uma peça essencial nesta formação que praticamente nunca mudou.

#31: “Carolina IV” — Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt (Angra)
O primeiro duelo de fato da lista. Atual guitarrista solo do gigante Megadeth, o brasileiro Kiko Loureiro há muito já mostrava ser um músico acima da média. Com o Angra, banda que formou com o guitarrista igualmente talentoso Rafael Bittencourt (com quem divide este solo) e o já mencionado Andre Matos, Kiko e os colegas puderam pôr para fora uma música única que unia as influências eruditas, metálicas e nacionais que eles tanto apreciavam. “Carolina IV” não só é um dos melhores exemplos disso como traz um dos melhores solos da discografia deles.

#30: “Dawn of a Million Souls” — Michael Romeo (Ayreon; participação especial)
Em sua primeira colaboração com o Ayreon, Michael Romeo mandou não só um, mas dois solos em seguida. Quer dizer, tecnicamente é um solo só, pois trata-se do mesmo músico e um emenda no outro, mas a mudança de atmosfera e até do timbre meio que nos dá o direito de considerar que se trata de um solo dividido em dois. Enfim, neste aqui, ele se sente em casa, afinal, está participando de uma música que já conta com vocais do seu colega de Symphony X, o estupendo Russell Allen.

#29: “Elysium” — Matias Kupiainen (Stratovarius)
Alguns me incluirão em suas respectivas listas negras por mencionar o atual guitarrista do Stratovarius, mas não o antigo – o lendário Timo Tolkki. Bem, Timo até tem muitos solos bons, mas ele é um shredder e eu tenho um gosto um tanto particular para esta modalidade. Acredito que o jovem Matias imprime muito mais emoção em suas notas, e a obra-prima da banda que recebeu o mesmo nome do disco em que foi lançada foi uma oportunidade de quase 20 minutos para ele mostrar isso. O foco deste parágrafo é o solo de encerramento, mas não deixe de conferir também o empolgante duelo com o tecladista Jens Johansson aos 9:27.

#28: “Star of Sirrah” — Paul Gilbert (Ayreon; participação especial)
Parece incrível que um solo tenha se destacado numa faixa que tem um dos riffs mais matadores da história do Ayreon e ainda traz a participação de James LaBrie, Russell Allen, Hansi Kürsch, Tobias Sammet, Nils K. Rue, Tommy Rogers, Michael Eriksen e Floor Jansen (ufa!). Bem, é que o solo ficou sob os cuidados de uma lenda igualmente gigante: o estadunidense Paul Gilbert. Infelizmente, tive de puxar um vídeo “pirata” para esta faixa porque o oficial é um lyric video que criminosamente cortou parte do solo.

#27: “The Count of Tuscany” — John Petrucci (Dream Theater)
Olha só quem apareceu de novo. E desta vez com um dos solos mais especiais e diferentes desta lista. Acostumado a fazer com suas mãos coisas que os humanos ainda não conseguem, John Petrucci entrega nesta faixa sobre um encontro que ele teve na Toscânia (Itália) um longo solo carregado de emoção e abusando da técnica do swell, que consiste em usar pedais para “atrasar” o som da guitarra e assim omitir o primeiríssimo ruído que se faz (o barulho do “ataque” à corda).

#26: “Wind of Change” — Matthias Jabs (Scorpions)
Este clássico alemão com uma letra emblemática sobre o fim da União Soviética ficou ainda melhor quando os Scorpions decidiram contemplá-lo no álbum Moment of Glory, lançado em 2000 em parceria com a Orquestra Filarmônica de Berlim. Se este solo de Matthias Jabs já era carregado de emoção na versão original, olhem só como fica com todas as cordas e sopros ao fundo:

#25: “The Dream Dissolves” — Marcel Coenen (Ayreon; participação especial)
Ayreon de novo, e com o mesmo álbum do último solo em que foi mencionado. Desta vez, o time de vocalistas participantes é mais enxuto, trazendo “apenas” Nils K. Rue, Michael Eriksen, Floor Jansen e Simone Simons. Por outro lado, o guitarrista que deixou sua marca aqui (Marcel Coenen, do Sun Caged) teve de fazê-lo logo após um tecladista dos grandes: Mark Kelly, do Marillion. Quem ganha é o fã, que fica com dois solos monstruosos em sequência. Uma curiosidade: o primeiro solo que Marcel mandou para Arjen foi rejeitado. Ele fez este outro na força do ódio (mentira, nem foi assim) e agradeceu à mente por trás do Ayreon por tê-lo estimulado a ir além. De novo, quem ganhou foi o fã.

#24: “Butter-Fly” — ??? (Wada Kouji)
Dentre as muitas contribuições que o saudoso Wada Kouji deixou para a música japonesa, está a abertura da primeira temporada de Digimon, “Butter-Fly”. O clássico anime deu à luz outras memoráveis canções, mas esta aqui traz um solo dos mais inspirados e empolgantes, executado por um ilustre desconhecido. E mais tarde o cantor prepararia outra música de Digimon com um solo ainda melhor, que guardei para uma colocação mais alta nesta lista…

#23: “Over” — Lori Linstruth (Guilt Machine)
Quando George Harrison escreveu aquela famosa música sobre sua guitarra chorar, ele provavelmente não imaginava que um dia alguém haveria de se especializar em solos que parecem fazer exatamente isso. Chegamos à – infelizmente – única mulher na lista: Lori Linstruth. Aqui, mostramos um solo extremamente tocante que ela deixou no Guilt Machine, projeto paralelo ao Ayreon (ou seja, tome Arjen de novo) que até o momento rendeu um único disco. A faixa, como todas do lançamento, traz letras bem “deprê” e o solo “chorão” só vem somar à atmosfera entristecida da música. Aos 5:10, Lori até se junta ao vocalista Jasper Steverlinck num “duelo de choros”!

#22: “The Shattered Fortress” — John Petrucci (Dream Theater)
E lá vem John de novo. “The Shattered Fortress” é a última das cinco canções que o ex-baterista do Dream Theater, Mike Portnoy, escreveu sobre sua luta contra o alcoolismo. Ela faz uma espécie de pout pourri de riffs, melodias e versos das peças anteriores e, como não poderia deixar de ser, é carregada de muita emoção. Contrariando tendências da banda, os solos de John e de Jordan ficam em momentos separados da música. O tecladista vem primeiro com seu continuum, e executando um solo igualmente matador que se inicia aos 5:32.

#21: “Heroes of Our Time” — Herman Li & Sam Totman (DragonForce)
Claro que, quando se pensa em “DragonForce” e “solo” na mesma frase, ela parece incompleta se não contiver “Through the Fire and Flames”, o grande clássico da banda e a última música de metal & derivados que podemos chamar de “hit”. O próprio solo, que impressionou a todos por sua virtuosidade e ganhou câmera em foco no clipe, ajudou a alavancar a fama da peça. Mas meu coração bate mais por “Heroes of Our Time” e alguns outros solos do grupo britânico – que guardarei para a lista de duelos favoritos por serem intercalados com solos de teclado também.

#20: “Sorrow” — David Gilmour (Pink Floyd)
O lendário David Gilmour aparecerá três vezes nesta lista, e a primeira já é logo na 20ª colocação. “Sorrow” foi inteiramente escrita pelo próprio guitarrista ao longo de um fim de semana no Astoria, seu estúdio flutuante. O solo é executado em sua Steinberger GL (uma guitarra “sem cabeça”) com um amplificador Gallien-Krueger (na época, a empresa ainda não havia focado totalmente sua produção em amplificadores de baixo). Não deixe de conferir também as versões ao vivo desta beleza!

#19: “Wisdom and the Cage” — Kristian Niemann (Therion)
Depois de uma faixa inteira dedicada a Sofia, a personificação da sabedoria, o que ainda poderíamos esperar destes pioneiros do metal sinfônico? Kristian Niemann duelando consigo mesmo, é claro! Os dois solos são separados por uma melodia ao teclado e o foco do parágrafo é o segundo, que encerra a faixa com chave de ouro.

#18: “Silent Jealousy” — hide & Pata (X Japan)
Outros guitarristas que aparecerão três vezes, todas no top 20, são hide e Pata, a dupla de ouro do X Japan – o grupo japonês criminosamente ignorado pela mídia ao falar de power metal. Quando a maioria das bandas do gênero ainda tentava se livrar das fortes influências thrash, o X Japan já estava lá, pleníssimo, fazendo power metal limpo, agudo e cheio de elementos sinfônicos. “Silent Jealousy” é uma das melhores músicas que eles já fizeram, e um exemplo de como fazer power metal. O solo em questão, devo adicionar, vem após um solo de baixo, um solo de piano e, depois de alguns refrãos, ainda é sucedido por um solo de bateria.

#17: “Art of Life” — hide & Pata (X Japan)
Dobradinha de X Japan. Vamos agora para esta que é uma das melhores obras musicais da história da humanidade: “Art of Life”, faixa que ocupa sozinha a totalidade do quarto disco dos japoneses. Dentre as várias passagens que compõem a obra-prima deles, temos dois grandes solos de guitarra, isso sem considerar as linhas de abertura e alguns licks em loop pouco antes do encerramento. O solo em foco aqui é o do meio, que dura pouco mais de três minutos. Mas não deixe de conferir também o primeiro, que se inicia aos 5:56.

#16: “Another Brick in the Wall, Part II” — David Gilmour & Tim Renwick (Pink Floyd; membro oficial e músico de apoio, respectivamente)
Sim, já temos David Gilmour de novo, naquela que na minha opinião é a melhor versão da segunda parte de “Another Brick in the Wall”, ainda que sem Roger Waters. Aqui, David duela com o músico de apoio Tim Rendwick, e quem ganha somos nós. Ao fundo, uma das linhas de baixo mais marcantes da história do rock, só que nos dedos do também contratado Guy Pratt, já que Roger não mais estava no grupo.

#15: “Nova Era” — Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt (Angra)
Primeiro, ela foi plagiada pelo Parangolé. Depois, caiu de paraquedas num pouco conhecido meme pró-Bolsonaro. “Nova Era”, uma das primeiras músicas do Angra que me apresentaram, é um destaque na discografia do quinteto e acabou ficando famosa pelos motivos errados. Querem razões melhores, além da óbvia qualidade? O solo de Kiko e Rafael, um dos primeiros que me marcaram na vida.

#14: “Stairway to Heaven” — Jimmy Page (Led Zeppelin)
Com certeza o solo mais manjado e “modinha” desta lista, mas ainda assim o mais lendário da história do rock. Executado pelo mestre Jimmy Page (coautor da faixa) em uma Fender Telecaster recebida das mãos de Jeff Beck (que, como ele, tocou no The Yardbirds) e plugada em um amplificador que ele não recorda se era um Supro ou um Marshall. Ao vivo, e usando sua icônica Gibson de dois braços, Jimmy normalmente estendia o solo, motivo pelo qual há versões desta música que ultrapassam (às vezes muito) a marca dos dez minutos.

#13: “Free Bird” — Allen Collins (Lynyrd Skynyrd)
Dobradinha de solos manjados e “modinhas”. Este aqui, receio, deve ter sofrido uma certa banalização por sua presença em dois jogos muito populares (Guitar Hero II e Grand Theft Auto San Andreas (embora neste último ele seja criminosamente cortado)) e também porque “toca Free Bird!” é o “toca Raul!” dos estadunidenses. Mas tudo bem, um solo que ocupa metade de uma música de dez minutos (o mais longo da lista!) que nem se trata de rock progressivo e que se tornou motivo de louvação à parte da própria faixa com certeza é um solo que me chamaria a atenção.

#12: “Peruvian Skies” — John Petrucci (Dream Theater)
E lá vem ele de novo. Desta vez, com um solo que teve o azar de ser lançado no disco mais injustiçado do Dream Theater, o inofensivo Falling into Infinity. Curiosamente, esta foi uma das primeiras músicas que eu ouvi do Dream Theater, mais ou menos em 2005, mas levou anos para eu perceber o quanto ela era boa, e somente um pouco depois eu notei o quanto este solo era maravilhoso. Tudo só melhorou quando eu comprei uma partitura digital oficial para aprender as partes de órgão que tocam ao fundo, mas lamentavelmente o aplicativo simplesmente saiu do ar sem explicações e eu fiquei na mão. Fuén…

#11: “Crawl” — Steve Morse (Flying Colors)
Pra mim, este é o melhor grupo de rock surgido nos anos 2010 – ainda que eu admita haver certa dose de covardia em colocar um supergrupo nesse posto. Nas guitarras, temos Steve Morse (o incontestável membro do Deep Purple e do Dixie Dregs), com o vocalista Casey McPherson apoiando na base e o tecladista/vocalista Neal Morse (sem parentesco) dando um eventual suporte adicional no violão. E nesta faixa, ele entrega um solo daqueles que até arrepia. Não deixe de conferir também o solo igualmente bom que serve de encerramento da faixa, além, é claro, de toda a discografia desta grande banda de rock progressivo, pop e hard.

#10: “Comfortably Numb” — David Gilmour (Pink Floyd)
Abrimos o top 10 com a última aparição de David nesta lista, e também com o último solo que considero manjado e “modinha”. Mas fazer o quê, o danado é uma obra-prima mesmo, ué. Aliás, os danados – apesar de ocorrerem em momentos diferentes, os dois solos desta música muitas vezes aparecem como um só em listas do tipo. O primeiro é bem simples, mas extremamente tocante (sem trocadilhos). O segundo demonstra mais poder de fogo, assemelhando-se ao que David desenvolveria mais tarde tanto em carreira solo quanto nos discos da banda sem Roger Waters.

#9: “Tears” — hide & Pata (X Japan)
Um dos primeiros solos de guitarra que me marcou na vida, uma das primeiras músicas do X-Japan que eu ouvi, e uma das baladas de rock/metal mais lindas já feitas pelo homem. É só isso que tenho a dizer sobre esta obra divina.

#8: “Chalice of Agony” — Henjo Richter (Avantasia; participação especial)
Numa faixa em que Tobias Sammet faz “trieto” com Andre Matos e Kai Hansen, quem se destaca é Henjo Richter (colega de Kai no Gamma Ray). A exemplo do solo de Sascha, este também começa inofensivo, só com uns arpeggios, mas na segunda metade as notas ganham mais independência e, bem, viram essa maravilha aí embaixo.

#7: “The Watchmaker’s Dream” — Arjen Anthony Lucassen (Avantasia; participação especial)
Dobradinha de Avantasia, e a última ocorrência da maior metal opera de todos os tempos nesta lista. Chega a soar ofensivo que Arjen apareça neste lista como “visitante” em outro grupo e não no seu próprio projeto (que é a melhor metal opera de todos os tempos), mas… este solo dele é simplesmente incrível. No Ayreon, ele acaba cedendo espaço para outros guitarristas brilharem em solos, e não por um acaso muitos vieram parar aqui. Para alguém que assumidamente não gosta de praticar e por isso não é virtuoso, Arjen conseguiu um posto bem elevado nesta lista…

#6: “Innocent” — ??? (Wada Kouji)
Ao falar de “Butter-Fly”, a 24ª da lista, eu disse que Wada Kouji tinha uma música de Digimon com um solo ainda melhor, reservado para uma colocação mais alta nesta lista. Pois aqui está: o encerramento para a quarta temporada, Digimon Frontiers. Se por um lado foi a partir daqui que a qualidade do anime começou a decair, musicalmente falando o nível permaneceu bem alto. A presença desta música na lista – e numa posição tão nobre – é muito provavelmente influência do fato dela ter uma das linhas de baixo mais incríveis que eu já ouvi em toda a minha vida. Mas… o solo é bom mesmo, pode ouvir sem medo. E tome mais um “anônimo involuntário”!

PS: Qual era a chance de duas músicas com quase o mesmo nome (“Innocence” (a 36ª) e “Innocent”) acabarem nesta lista?

#5: “Hold the Line” — Steve Lukather (Toto)
Não é o clássico riff de piano de David Paich. Não é a voz aguda de Bobby Kimball. Não é a bateria marchante de Jeff Porcaro. O que mais me agrada nesta música é o ótimo solo de Steve Lukather. Talvez você nunca tenha ouvido esta canção (apesar de fazer parte da tríade de ouro do Toto, junto com “Africa” e “Rosanna”), ou talvez não conheça nada desta banda, mas é virtualmente impossível não ter ouvido Steve – ele já participou de literalmente milhares de álbuns de uma gama muito ampla de gêneros e artistas diferentes – incluindo o brasileiro Gilberto Gil.

PS: Mais uma música sob a qual milhares de jovens felizes fizeram miséria no Grand Theft Auto San Andreas

#4: “Another Day” — John Petrucci (Dream Theater)
Sim, lá vem ele de novo. E esta nem é a última aparição de Petrucci nesta lista, o que significa que sim, ele estará no pódio! Nesta faixa dos primórdios do Dream Theater – repare no vídeo como o quinteto ainda era super jovem -, John reflete sobre a vida com o pai, que acabara de ser diagnosticado com câncer na época. Alguns anos depois, ele morreria e o evento renderia “Take Away My Pain”, do já mencionado Falling into Infinity. Seria imperdoável não mencionar também os dois solos de Jay Beckenstein, saxofonista soprano que deu um toque inesquecível a este grande momento dos deuses do metal progressivo.

#3: “Hotel California” — Don Felder & Joe Walsh (Eagles)
Eu só não digo que o pódio vai abrir com mais um solo manjado/”modinha” porque esta música é famosa como um todo, e possivelmente seu refrão é mais lembrado que o solo de mais de dois minutos que a encerra. Não vou falar da letra porque os próprios integrantes e ex-integrantes não conseguem chegar a um consenso sobre o que diabos ela significa. Vale dizer que a faixa se utiliza de uma progressão harmônica não usual para o rock, mas comum na música espanhola (especialmente a flaminca), o que lhe confere uma boa dose de autenticidade. Sobre o solo em si, ao tentar descrevê-lo, sinto-me como um oceanógrafo tentando falar de um tsunami ao vivo. Ele pode proferir as palavras que quiser, mas a onda simplesmente chega e o leva, junto com tudo o que houver ao seu redor.

#2: “The Ghost of Tom Joad” — Tom Morello (Bruce Springsteen; membro de apoio)
Muitos acusam Tom Morello, famoso por seu trabalho no Rage Against the Machine e no Audioslave, de ser “só pedais e efeitos”. Ele obviamente faz extenso uso desses apetrechos, mas… até para usá-los, você precisa entender o que está fazendo. E Tom com certeza entende. O tecladista Jens Johansson (do Stravovarius; mencionado lá em cima no solo nº 29) diz que quando você usa o pitch bend do seu teclado, você precisa ter uma nota específica em mente. Apesar de ser tecladista e não guitarrista, creio que o mesmo se aplica aos efeitos de uma guitarra. Neste solo estupendo, Tom Morello encerra de forma magistral uma faixa retrabalhada do grande Bruce Springsteen – cuja versão original já era ótima. Uma curiosidade é que logo antes da passagem de som para o show em que ela seria apresentada pela primeira vez com o ex-RATM na guitarra e também nos vocais, Bruce decidiu subir o tom da música – literalmente. Em seu curso de guitarra na plataforma MasterClass, Tom explica que não sabia se conseguiria alcançar as novas notas (oito tons acima), tampouco se soaria convincente – e para ele, que é politizado até o osso, soar convincente numa faixa cuja letra faz um protesto tão poético era vital. No fim, ele entregou uma das coisas mais lindas já feitas pela mão do homem. Não deixe de conferir também o solo intermediário, um duelo com o próprio Bruce, aos 2:38. Vale lembrar que esta música foi executada várias vezes no palco desde 2008 e só em 2013 foi registrada em estúdio para um lançamento no começo do ano seguinte. Vale correr atrás dessas versões ao vivo e conferir as primeiras variações da obra.

#1: “The Ministry of Lost Souls” — John Petrucci (Dream Theater)
E o guitarrista que mais pareceu nesta lista é também o que a lidera. Agora, permitam-me admitir que este final foi um tanto “anti-climax”. O solo em questão é até bastante simples comparado à maioria dos outros e principalmente levando em conta um solo típico de Petrucci, sem falar que ele flerta muito perigosamente com a definição “solos que são na verdade apenas frases em loop”, que usei como critério de exclusão no meu processo de curadoria. Mas ele te atinge em cheio na alma – se me permitem o trocadilho com o título – especialmente se você ouve a faixa inteira e ainda por cima prestando atenção na letra. Vale lembrar que ele é somente o terceiro de três solos que John entrega aqui. O primeiro (3:21) é um “aperitivo” do final e o segundo (9:00) é um duelo enfurecido com Jordan.

Menções honrosas
Alguns solos que não figuraram aqui, mas me agradam muito e eu recomendo (em ordem aleatória):

  • “Strutter” – Kiss
  • “Lugar Nenhum” – Titãs; versão Volume Dois
  • “End of All Hope” – Nightwish
  • “Eva” – Nightwish
  • “Wishmaster” – Nightwish
  • “The Day That Never Comes” – Metallica
  • “Dictatorshit” – Sepultura
  • “Dahlia” – X Japan

Resenha: The Source – Ayreon

Reprodução da capa do álbum (© Mascot Label Group)


Já virou tradição: a cada dois ou três anos, o gênio e multi-instrumentista holandês Arjen Anthony Lucassen lança alguma coisa que conquistará os fãs e levará a crítica a rasgar elogios. Em 2017, não foi diferente.

Com The Source, ele retoma seu principal projeto, Ayreon, e nos leva bilhões de anos no passado, no planeta Alpha da Galáxia Andrômeda, onde o controle sobre o mundo é dado a máquinas na esperança de que elas resolvam os problemas ecológicos que o afligem. Para salvar o globo, elas determinam que basta eliminar a humanidade. Um grupo de dez alphas mais um computador leal à humanidade é selecionado para abandonar o corpo celeste decadente e garantir a sobrevivência da raça noutro lugar. O destino encontrado é um mundo aquático orbitando Sirah (mais conhecida como Alfa Andrômeda). A continuação da história? Basta ouvir o antepenúltimo lançamento do supergrupo, 01011001. Este disco marca o início de toda a grande história que Arjen nos conta há mais de 20 anos.

Como de praxe, um time de primeira foi convidado a participar. Dois reaparecem pela segunda vez consecutiva: Tommy Karevik (Kamelot, Seventh Wonder) e Michael Mills (Toehider), que já haviam deixado sua marca em The Theory of Everything (resenhado neste blog). Ambos interpretam os papeis d’O Líder de Oposição e o computador TH-1. A maioria dos outros cantores retorna de álbuns anteriores do projeto, algo inédito para o Ayreon, uma vez que Arjen prefere sempre trabalhar com sangue novo: James LaBrie (Dream Theater) como O Historiador, Simone Simons (Epica) como A Conselheira, Tobias Sammet (Edguy, Avantasia) como O Capitão, Hansi Kürsch (Blind Guardian) como O Astrônomo, Russell Allen (Symphony X, Adrenaline Mob) como O Presidente e Floor Jansen (Nightwish, ex-After Forever, ex-ReVamp) como A Bióloga. As novidades ficam por conta de Tommy Rogers (Between the Buried and Me) como O Químico, Nils K. Rue (Pagan’s Mind) como O Profeta, Michael Eriksen (Circus Maximus) como O Diplomata e Zaher Zorgati (Myrath) como O Pregador. Nos solos, só novidades (e só feras): Mark Kelly (Marillion) num solo de teclado e Paul Gilbert (Mr. Big, Racer X), Guthrie Govan (The Aristocrats, ex-Asia) e Marcel Coenen (Sun Caged) em solos de guitarra.

Com tudo isso em mãos, o holandês entregou mais uma obra-prima do metal progressivo. Prometeu que o trabalho seria mais voltado para as guitarras e cumpriu. Se em The Theory of Everything os teclados estavam OVER 9000!! (não reclamo), em The Source os sons eletrônicos deram mais espaço às seis cordas. Há um foco evidente em riffs e solos, com os teclados acompanhando tudo na forma de órgãos e mellotrons. O peso é tanto que deixa o álbum próximo ao Star One, projeto de Arjen com riffs notadamente mais agressivos.

Como no lançamento anterior, as várias faixas (17 no total) foram divididas em quatro partes. A diferença é que, embora as canções emendem umas nas outras dentro de cada parte, você pode ouvir cada uma isoladamente numa boa. Em The Theory of Everything, isso ficaria estranho, pois cada parte é feita de dezenas de interlúdios e faixas curtas.

Mas enfim, sem mais delongas, falemos da música em si. The Source abre com a estupenda “The Day That the World Breaks Down”. Apesar de, com 12 minutos e meio, ser a mais longa, é um bom resumo da proposta musical do lançamento por conter passagens de diferentes climas e velocidades e estrelar todos os vocalistas, menos Zaher.

A melancólica “Sea of Machines” tem um refrão que nos remete à ótima “Closer to the Stars”, do Star One (paralelos com esse supergrupo, como sugerido acima, podem ser traçados várias vezes ao longo do álbum, como veremos no decorrer desta resenha). Nela, o Profeta prevê elementos do futuro que figuraram nas histórias anteriores do projeto: um mundo “sob as ondas” (“Beneath the Waves”), um “cometa” (“Ride the Comet”) e um castelo (Into the Electric Castle).

Depois da acelerada “Everybody Dies”, que ganhou um lyric video, temos um ponto alto, que também ganhou um lyric video: “Star of Sirrah”. Com referências à “eternidade líquida” (“Liquid Eternity”) de 01011001, traz o primeiro solo de um convidado: Paul Gilbert, que faz um brilhante trabalho na segunda metade desta peça matadora. Esta é uma das que mais chega perto do Star One – com efeito, o riff principal parece tirar inspiração de “Earth That Was”.

E falando em “that was”… na quinta faixa, “All That Was”, afloram os temperos folk, como acontecia em “River of Time”, do 01011001. Seu clima melancólico é acentuado pela harmonização dos vocais de Simone e Floor. “Run! Apocalypse! Run!” soa menos cataclísmica do que seu título sugere, mas a velocidade é condizente. Depois dela, mais um momento de melancolia em “Condemned to Live”, o encerramento do disco 1, em que os personagens lidam com o sentimento de culpa por fugirem do planeta enquanto todo o resto – incluindo seus entes queridos – fica para morrer.

O disco 2 abre tão bem quanto o anterior, com uma tríade de faixas fortes: “Aquatic Race”; “The Dream Dissolves”, que traz os solos inspirados de Mark Kelly e Marcel Coenen; e “Deathcry of a Race”, uma faixa muito especial, pois traz a brevíssima, porém belíssima participação de Zaher Zorgati. Depois delas, a igualmente boa “Into the Ocean”, que referencia mais o rock progressivo clássico sem perder o peso.

A boa “Bay of Dreams” nos leva à ótima “Planet Y Is Alive!”, cujo início, de novo, faz chupim de Star One, desta vez da arrebatadora “Down the Rabbit Hole”. Nela, temos um delicado solo de Guthrie Govan preenchendo um inesperado momento leve na segunda metade. A morna “The Source Will Flow” é o momento mais leve do disco, sem nadica de nada de guitarras, mas com uma passagem cantada por James que nos remete à parte cantada por David Gilmour no clássico “Comfortably Numb”, do Pink Floyd.

Chegamos à reta final com a ótima e positiva “Journey to Forever”, citando o “mundo sem muros” em que eles querem viver – e que é referenciado também em “Beneath the Waves” e no final de “The Sixth Extinction”, do 01011001. Ela emenda numa espécie de encerramento duplo: “The “Human Compulsion”, que reprisa o riff do terceiro quarto de “Sea of Machines” e, mantendo uma tradição dos encerramentos dos álbuns do Ayreon, coloca todos os personagens para cantarem brevemente suas considerações finais; e o encerramento de fato, a ameaçadora “March of the Machines”, que conclui com o gancho perfeito para 01011001: “the age of shadows will begin”.

Gostaria de dedicar espaço a algumas performances que merecem comentários a parte. A começar por Tobias Sammet, que, por um acaso, lidera o Avantasia, a metal opera mais famosa e bem sucedida da história. Que ele é um baita vocalista, ninguém duvida, mas o ambiente diferenciado do Ayreon lhe permitiu explorar aspectos pouco conhecidos de sua agradável voz.

O australiano Michael Mills é outro que merece aplausos. Ele já havia mandado muito bem em The Theory of Everything – quem não se arrepia com “The Parting”? -, mas é aqui que ele realmente mostrou toda a sua versatilidade vocal. E aproveito mais este texto para renovar minha recomendação para sua banda principal, Toehider, que trabalha com uma grande gama de subgêneros do rock e do metal.

As majestosas Floor Jansesn e Simone Simons, infelizmente as únicas mulheres, oferecem um lado vocal indispensável para uma metal opera com direito a dueto soprano em “Deathcry of a Race”. Por fim, elogio novamente o tunisiano Zaher Zorgati. Como podem tão poucos segundos marcarem tanto? Para quem não sabe, os versos dele significam “Ele disse ‘que se faça a luz’; e a luz se fez” em árabe.

Pra não dizerem que eu só babei ovo no texto – desculpem-me, mas é Arjen Anthony Lucassen – fica aqui uma observação. O excesso de passagens que dialogam com Star One empolgam, mas percebo uma certa autorreciclagem de riffs que me remete ao In Paradisum (resenhado neste blog), do supergrupo Symfonia, encabeçado por Timo Tolkki, que teve fria recepção da crítica justamente por isto.

Nota = 5/5. Nesta vida, só temos duas certezas: a morte, e que Arjen colocará algo bom no mercado. The Source é uma aula de metal progressivo pesado, direto e voltado para a ficção científica e mais uma joia desta fábrica de obras-primas. A não ser que tenhamos o melhor ano da história do gênero, não leve a sério nenhuma lista de melhores lançamentos progressivos de 2017 que não inclua este discaço.

Abaixo, o vídeo da faixa “The Day That the World Breaks Down”: