Resenha: Olitizack – Steelgods

ilustração de um homem de túnica cobrindo o rosto com as mãos e de cabeça baixa,visto de frente. Atrásdele, há um castelo e entre os dois um mar de caveiras. O logo da banda aparece no topo, centralizado. Inscrições em um alfabeto não-latino aparecem em círculo em volta da cena

Reprodução da capa do álbum (© Steelgods)

Fiquei sabendo deste sexteto paulista ao fuçar casualmente as redes sociais de sua assessoria de imprensa e fiquei impressionado com o primeiro contato que tive com seu som direto, pesado e muito bem-produzido. Quantas bandas você já descobriu de maneiras tão aleatórias como esta?

Mas enfim, este som nos é apresentado na forma da estreia batizada como Olitizack – nome do personagem que protagoniza a trama distópica que também é retratada num livro paralelo ao álbum.

E neste discão da porra, aprendemos que o metal do Steelgods é essencialmente “básico”, mas sempre acaba “escapando” para alguma sub-vertente. É um pouco de gótico em “In the Abyss”, um pouco de oriental em “Mandragora”, um pouco de sinfônico/medieval em “Farewell Song”, “Ballet of the Blinds” e “The Thief” e bem power em “The Dream” e “Five Springs”.

Sendo esta uma estreia, não dá para dizer agora que direcionamento a banda vai seguir no futuro – se é que escolherão um caminho específico. Se continuarem se dando bem em terrenos múltiplos como aconteceu aqui nesta estreia, o futuro é de glórias – dentro dos limites a que a cena nacional é submetida.

Avaliação: 4/5.

Abaixo, o clipe de “The March + The Dream”:

Resenha: Zeit – Rammstein

fotografia em preto e branco dos seis membros enfileirados em uma escada que contorna uma estrutura em forma de bala que se projeta do chão. O logo da banda e o nome do disco aparecem numa faixa vermelha vertical à esquerda da foto

Reprodução da capa do álbum (© Universal Music Group; foto por Bryan Adams)

Depois de dez anos, a lenda alemã Rammstein voltou de um período de quase-hibernação com um excelente disco sem título em 2019 (clique aqui para conferir minha resenha a respeito). E quando tudo estava pronto para embarcarem numa triunfante turnê… pandemia.

Inquietos, os seis componentes usaram o tempo sem atividades para criar um sucessor. Este sucessor chegou em abril às lojas e plataformas digitais, com uma capa fotografada por Bryan Adams – sim, aquele Bryan Adams – e um título bem sucinto: Zeit, ou seja, “tempo”.

Não sei se é porque não temos mais o fator “saudades” em jogo aqui, mas o disco simplesmente não supera, tampouco causa o mesmo impacto que seu antecessor. Sim, a empolgante “Armee Der Tristen” e a belíssima faixa-título formam uma competente duplinha de abertura, e quando esta última foi lançada eu quase chorei vendo o clipe.

Mas dali em diante, o álbum já perde um pouco o gás, recuperando o ímpeto em momentos isolados. Claro, estamos falando daquela que é talvez a maior banda de metal da Europa continental, e senhores absolutos de seu gênero (Neue Deutsche Härte). Um disco deles ser mais fraco que o anterior não o torna automaticamente fraco em si mesmo.

Até porque, este lançamento ainda garante grandes momentos. Falo de “Giftig” e “Lügen”, com suas incorporações eletrônicas; ou “Zick Zack” e a relevância do tema de sua letra e clipe. E o que falar de “Meine Tränen”, uma balada quase tão tocante quanto “Zeit”? Concordando ou discordando de mim, você fatalmente encontrará ao menos uma música para chamar de sua.

No teste do tempo, o Rammstein mete uma goleada: já são praticamente 30 anos com exatamente a mesma formação e uma transformação lenta, porém constante do seu som. Zeit coloca o sexteto de volta aos trilhos em termos de prolificidade e diverte o fã; porém, dissipada a fumaça do impacto de seu retorno triunfal em 2019, talvez ele se torne com o passar do tempo – se me permitem o trocadilho – um item apenas efêmero.

Avaliação: 4/5.

Abaixo, o vídeo de “Angst”:

Resenha: Creepy Symphonies – Trick or Treat

ilustração de dois tocandos violino e violoncelo em um cmeitério à noite, com espíritos saindo dos instrumentos e voando pelo local. O logo da banda aparece no topo, ao centro, e o nome do disco vem no rodapé, também centralizado.

Reprodução da capa do álbum (© Scarlet Records)

Uma das bandas mais importantes da onda atual do power metal, o quinteto italiano Trick or Treat está numa sequência implacável de lançamentos: um projeto ambiciosos intitulado The Legend of the XII Saints, com cada música homenageando um Cavaleiro do Zodíaco (clique aqui para conferir minha resenha a respeito); uma coletânea de raridades (The Unlocked Songs) e agora o sétimo disco de estúdio, Creepy Symphonies.

Este trabalho de certa forma configura uma volta às raízes, considerando que se trata do primeiro em mais de dez anos que não é conceitual e traz somente material inédito. E ele prova que o grupo ainda manda muito bem em terrenos mais “livres”.

O single e faixa-“quase”-título “Creepy Symphony”, empolgante, dita o ritmo geral da obra enxuta, porém competente. “Escape from Reality” e a épica “The Power of Grayskull” são os outros pontos altos, com grandes chances de empolgarem os fãs mais sedentos por agressividade. “April” sobra como a balada, melosa até dizer chega.

Uma coisa que chama a atenção neste álbum é o “realismo” de algumas músicas. Para uma banda acostumada a falar de temas fantasiosos, discutir o meio ambiente (“Have a Nice Judgment Day”), a rotina da classe trabalhadora (“Crazy”) e a obsessão por “reconhecimento” nas redes sociais (“Queen of Likes”) provê uma bem-vinda lufada de maturidade no som desta galera cujo som é tão jovial que quase nos esquecemos que eles já rodam há impressionantes 20 anos.

Outro ponto que merece destaque é a performance do baixista Leone Villani Conti. Proeminente na maioria das faixas, ele ataca até de solista em “Falling over the Rainbow” e “Queen of Likes”.

Pela falta de um tema ligando as canções, Creepy Symphonies no futuro pode acabar virando um item discreto na discografia do quinteto, mas no momento, aqui em 2022, é indubitavelmente um ótimo lançamento do gênero do power metal para o ano.

Avaliação: 4/5.

Abaixo, o clipe da faixa-título: