Resenha: Olitizack – Steelgods

ilustração de um homem de túnica cobrindo o rosto com as mãos e de cabeça baixa,visto de frente. Atrásdele, há um castelo e entre os dois um mar de caveiras. O logo da banda aparece no topo, centralizado. Inscrições em um alfabeto não-latino aparecem em círculo em volta da cena

Reprodução da capa do álbum (© Steelgods)

Fiquei sabendo deste sexteto paulista ao fuçar casualmente as redes sociais de sua assessoria de imprensa e fiquei impressionado com o primeiro contato que tive com seu som direto, pesado e muito bem-produzido. Quantas bandas você já descobriu de maneiras tão aleatórias como esta?

Mas enfim, este som nos é apresentado na forma da estreia batizada como Olitizack – nome do personagem que protagoniza a trama distópica que também é retratada num livro paralelo ao álbum.

E neste discão da porra, aprendemos que o metal do Steelgods é essencialmente “básico”, mas sempre acaba “escapando” para alguma sub-vertente. É um pouco de gótico em “In the Abyss”, um pouco de oriental em “Mandragora”, um pouco de sinfônico/medieval em “Farewell Song”, “Ballet of the Blinds” e “The Thief” e bem power em “The Dream” e “Five Springs”.

Sendo esta uma estreia, não dá para dizer agora que direcionamento a banda vai seguir no futuro – se é que escolherão um caminho específico. Se continuarem se dando bem em terrenos múltiplos como aconteceu aqui nesta estreia, o futuro é de glórias – dentro dos limites a que a cena nacional é submetida.

Avaliação: 4/5.

Abaixo, o clipe de “The March + The Dream”:

Resenha: Creepy Symphonies – Trick or Treat

ilustração de dois tocandos violino e violoncelo em um cmeitério à noite, com espíritos saindo dos instrumentos e voando pelo local. O logo da banda aparece no topo, ao centro, e o nome do disco vem no rodapé, também centralizado.

Reprodução da capa do álbum (© Scarlet Records)

Uma das bandas mais importantes da onda atual do power metal, o quinteto italiano Trick or Treat está numa sequência implacável de lançamentos: um projeto ambiciosos intitulado The Legend of the XII Saints, com cada música homenageando um Cavaleiro do Zodíaco (clique aqui para conferir minha resenha a respeito); uma coletânea de raridades (The Unlocked Songs) e agora o sétimo disco de estúdio, Creepy Symphonies.

Este trabalho de certa forma configura uma volta às raízes, considerando que se trata do primeiro em mais de dez anos que não é conceitual e traz somente material inédito. E ele prova que o grupo ainda manda muito bem em terrenos mais “livres”.

O single e faixa-“quase”-título “Creepy Symphony”, empolgante, dita o ritmo geral da obra enxuta, porém competente. “Escape from Reality” e a épica “The Power of Grayskull” são os outros pontos altos, com grandes chances de empolgarem os fãs mais sedentos por agressividade. “April” sobra como a balada, melosa até dizer chega.

Uma coisa que chama a atenção neste álbum é o “realismo” de algumas músicas. Para uma banda acostumada a falar de temas fantasiosos, discutir o meio ambiente (“Have a Nice Judgment Day”), a rotina da classe trabalhadora (“Crazy”) e a obsessão por “reconhecimento” nas redes sociais (“Queen of Likes”) provê uma bem-vinda lufada de maturidade no som desta galera cujo som é tão jovial que quase nos esquecemos que eles já rodam há impressionantes 20 anos.

Outro ponto que merece destaque é a performance do baixista Leone Villani Conti. Proeminente na maioria das faixas, ele ataca até de solista em “Falling over the Rainbow” e “Queen of Likes”.

Pela falta de um tema ligando as canções, Creepy Symphonies no futuro pode acabar virando um item discreto na discografia do quinteto, mas no momento, aqui em 2022, é indubitavelmente um ótimo lançamento do gênero do power metal para o ano.

Avaliação: 4/5.

Abaixo, o clipe da faixa-título:

Resenha: Cleopatra VII – Medjay

ilustração de uma mulher egípcia com asas e um triângulo dourado atrás. O logo da banda aparece no topo, ao centro, e o nome do álbum vem no rodapé, também ao centro

Reprodução da capa do álbum (© MS Metal Records / DyMM P&M)

Menos de um ano depois de sua sólida estreia Sandstorm (clique aqui para conferir minha resenha a respeito), o quarteto mineiro de metal oriental Medjay já preparava seu segundo disco, àquela altura já batizado como Cleopatra VII – nome conveniente para nos lembrar de que diversas mulheres adotaram o nome “Cleópatra”, mas foi a sétima que alcançou status de lenda conhecida por todo mundo.

Se aquele primeiro lançamento nos dava um power/heavy/thrash metal temperado com aromas egípcios, este já se besunta todo em instrumentação típica, engrandecida com arranjos de cordas cinematográficos e ritmos diversos.

De quebra, temos um salto evolutivo na produção também: mais encorpado e polido, o som do Medjay fica bem próximo de nomes consolidados do gênero, como o Myrath.

Furiosas, as faixas são uniformemente pesadas e diretas, especialmente após a abertura mais orgânica “Stargate”. Outras dialogam com o álbum anterior e abdicam do que os mais impacientes chamariam de “firula” para focar no básico do heavy metal: “Osiris and Seth” e “Book of the Dead” são exemplos.

Aqui neste lançamento, a balada da vez nos emociona antes mesmo de começar a tocar: vemos no título de “Magic of Isis” a indicação de uma participação de Oula Al Saghir, a cantora síria que se refugiou da guerra no Brasil e aqui ficou, seguindo carreira artística.

Outras surpresas incluem a jovem cantora Mafra, que empresta sua voz para a ótima “Ankhesenamon”, e a não tão surpresa assim May “Undead” Puertas, vocalista do Torture Squad que já havia participado do disco anterior e volta para nos oferecer um interessante contraponto ao vocalista (e guitarrista) Phil Lima em “Sarcophagus”.

Preciso parabenizar novamente a cozinha rítmica da banda, assinada pelo baixista Samuka Vilaça e pelo baterista Riccardo Linassi, que garantiu uma fundação apropriada para a agressividade que as canções mais rápidas pediam.

Atingindo já um nível surpreendente para um grupo ainda pouco conhecido e que faz um gênero pouco explorado no mundo todo, muito menos no Brasil, o Medjay se firma com Cleopatra VII não mais apenas como grande nome do metal oriental no Brasil, mas como um nome relevante no cenário mundial da vertente.

Avaliação: 5/5

Abaixo, o clipe de “Shemagh in Blood”: